Translate

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Bullying não é uma brincadeira, é uma violência, diz especialista


Apelidos pejorativos, constrangimento público e ataques físicos são alguns dos problemas enfrentados por quem é vítima de bullying. Na busca para reduzir o problema, entrou em vigor este mês a lei que institui o programa de combate ao bullying e prevê que escolas, clubes e agremiações recreativas desenvolvam medidas de conscientização, prevenção e combate a esse tipo de intimidação. A Agência Brasil ouviu especialistas que avaliaram as medidas propostas pela lei e falaram sobre o combate ao bullying.
A doutora em educação e especialista em bullying e ciberbullying Cleo Fante diz que a lei é um avanço, mas considera que os professores e a escola não estão preparados para o enfrentamento ao bullying. Segundo ela, é preciso um trabalho de capacitação para professores e de abordagem frequente do tema nas escolas. "Ainda há muitos equívocos sobre o que é o bullying. Falta muito entendimento. O bullying não é uma brincadeira, uma ofensa pontual ou um conflito, o bullying vai muito além disso, é violência. Para que a lei se torne efetiva, temos que trabalhar o tema como violência, que é um fenômeno complexo, reflexo da violência social", defende.
Para ela, as ações de prevenção e combate ao bullying não devem se restringir a uma palestra ou uma campanha isolada contra o problema, mas fazer parte das discussões do dia a dia e envolver também a família. "Não é simples lidar com esse problema, ações pontuais geram resultados pontuais. Lidar com o bullying requer ações contínuas, então é preciso um conjunto de estratégias que denominamos de programas. Não adianta fazer uma palestra, um dia de conscientização, é preciso trabalhar de uma forma contínua", disse Cleo Fante.
A lei que estabelece o programa de combate ao bullying prevê que sejam realizadas campanhas educativas, além de orientação e assistência psicológica, social e jurídica às vítimas e aos agressores e institui práticas de conduta e orientação de pais, familiares e responsáveis diante da identificação de vítimas e agressores. Entre os objetivos do programa está a capacitação de docentes e equipes pedagógicas para a implementação das ações de discussão, prevenção, orientação e solução do problema.
Para o professor do curso de graduação e pós-graduação em Psicologia da Universidade Estadual Paulitas (Unesp) e autor de livro sobre bullying Nelson Pedro-Silva, embora a lei tenha mérito de chamar a população para o debate desse fenômeno, ela é desnecessária. "A Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) são documentos suficientes que nos permitem retirar elementos que nos possibilitem trabalhar com o equacionamento do bullying".
O professor explica que ao trabalhar na prevenção ao bullying é importante formar cidadãos com consciência de seus direitos e deveres e que respeitem as diferenças. "Devemos aprender a viver numa sociedade, que é formada por pessoas que apresentam diferenças étnicas, físicas, de toda ordem, e temos que aprender a lidar com o diferente. O que tem ocorrido é que nossas crianças e adolescente têm apresentado dificuldades consideráveis para lidar com aquilo que eles julgam ser diferente e, como tal, deve ser exterminado", disse Nelson Pedro.
A lei, sancionada pela ex-presidenta Dilma Rousseff, caracteriza o bullying como todo ato de "violência física ou psicológica, intencional e repetitivo, que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas".
O texto prevê que a punição aos agressores deve ser evitada, tanto quanto possível, "privilegiando mecanismos e instrumentos alternativos que promovam a efetiva responsabilização e a mudança de comportamento hostil.

Quase 70% dos estudantes da rede pública de Fortaleza declaram sofrer bullying




O isolamento é uma das características de crianças que sofrem bullying. (FOTO: Flickr/ Revista Esquinas/ Fabrício Remigro)

A pesquisa é fruto uma parceria entre o Ministério da Educação, a organização dos estados interamericanos e a Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais
Situações de constrangimento e preconceito são rotina em várias escolas do mundo. Atualmente chamada de bullying, a situação de violência dentro das escolas se caracteriza por ações intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneiras repetitivas por um ou mais alunos contra um ou mais colegas.
A filha de Michele Bonfim tem 9 anos e mudou de escola este ano. Ela conta que ao buscar a menina na escola, percebeu que ela estava triste. Foi aí que a garota contou que havia sofrido um episódio de preconceito. “Na fila da escola, um menino chamou ela de ‘neguinha feia do banheiro’. Quando fui buscá-la na escola, percebi que ela estava mal”, explica a mãe.
Um estudo feito nas sete capitais com as mais altas taxas de homicídio entre jovens apontou Fortaleza como a cidade onde mais crianças e adolescentes relatam ter sofrido violência em 2015. Segundo a pesquisa, uma parceria entre o Ministério da Educação, a organização dos estados interamericanos e a Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais, 67,2%  dos alunos da rede pública de Fortaleza dizem ter sido agredidos verbal ou fisicamente.


Suícidios de adolescentes reacendem debate sobre bullying na França


Émilie se matou aos 17 e trechos de seu drama pessoal, foram registrados num diário

A morte prematura e trágica das duas adolescentes desencadeou um debate sobre a melhor forma de proteger jovens e, ao mesmo tempo, ensiná-los a respeitar uns aos outros. O drama de ambas também foi exposto pela imprensa francesa.
O sofrimento de Émilie tornou-se público quando um jornal francês reproduziu trechos do diário da adolescente divulgados pelos pais dela.
Em seguida, uma rede de televisão exibiu o filme Marion, para sempre 13 - uma dramatização da vida de Marion Fraisse, que morreu há três anos.
O filme de 90 minutos mostra como seu sofrimento foi crescendo gradualmente, de forma imperceptível para quase todos ao seu redor. Numa sala cheia de alunos, Marion fica marcada como uma das garotas boazinhas. Aos poucos, vai perdendo amigas, e passa a ser vítima de rumores, insultos e isolamento.
Uma certa ocasião, Marion é abordada no corredor da escola por um grupo de garotos, que a agarram, reviram e jogam longe seus sapatos. "Ela estava pedindo para isso acontecer", diz uma garota que testemunhou tal cena.
Após esse episódio, Marion fica abalada e chora. A partir desse momento, o filme mostra como ela entra em desespero, se rende à depressão e, finalmente, toma a decisão radical de acabar com a própria vida.

Filhos, esses desconhecidos

O filme exibido na televisão francesa foi adaptado do livro escrito pela mãe de Marion, Nora Fraisse. Depois de encontrar uma carta da filha, Nora decidiu publicar a história da adolescente.
O ato pode ser considerado comovente, porque um dos elementos mais marcantes dessa história é a forma como os pais de Marion narram saber o que estava acontecendo com sua filha.
Entrevistada por um jornal francês para divulgar o lançamento da dramatização, a atriz Julie Gayet, que interpreta Nora, disse que o filme traz dois pontos de vista: Marion e sua mãe.
Segundo a atriz, o roteiro "mostra que os pais nunca conhecem realmente os filhos". "Metade da vida de uma criança lhes escapa", observou Gayet.
Mais de quatro milhões de pessoas sintonizaram no canal de televisão para assistir ao drama, cuja exibição que foi sucedida por um debate de uma hora. Muitos levaram a discussão para as redes sociais, onde compartilharam suas histórias e expressaram suas opiniões.
"Não é suicídio, é assassinato", escreveu uma usuária do Twitter que se identificou como Sara. Outro sugeriu que o filme fosse exibido em escolas. Muita gente descreveu suas próprias experiências com bullying, narrando que o trauma os perseguiu por anos mesmo já tendo saído da escola.

"Querido diário"

Quando Émilie morreu, ela era quatro anos mais velha que Marion.
Considerada uma aluna brilhante, estudava em uma escola particular na cidade francesa de Lille quando começou o assédio.
Reprodução
Antes do filme, a história de Marion já havia sido contada num livro escrito pela mãe da adolescente, que expôs o bullying na escola
Os pais dela narram que desde os 13 anos Émilie era discriminada pelos colegas: não era considerada descolada o suficiente, não acompanhava o que estava na moda e era uma leitora voraz. Um dia, atingiu seu limite e abandonou a escola.
Durante três anos, em que tentou outros colégios e até ensino à distância, Émilie desenvolveu uma fobia de escolas.
Os pais acreditam que sua morte esteja ligada à depressão como resultado de anos de bullying. Parte de seu calvário foi registrado num diário, no qual ela relata algumas das dificuldades de seu dia-a-dia:
"Esquivando-me de golpes, rasteiras e cuspes. Fechando os ouvidos para insultos e zombaria. Mantendo um olho na bolsa e no cabelo. Segurando as lágrimas. De novo e de novo.
...
- Ei, sabe o quê?, um menino exclamou alto o suficiente para todos ouvirem na classe menos o professor. Aparentemente, eles vão premiar os CDFs mais feios de todos os países. - Ah é?, reagem os colegas dando risadinhas. Aposto que temos o vencedor na classe.
...
Eu não quero que os meus pais saibam o quão patética eu sou; e acho que eles deram à luz a um pedaço de lixo."

Combatendo o bullying

Estatísticas oficiais indicam que cerca de 700 estudantes sofrem com bullying todo ano na França, país que tenta conscientizar os alunos sobre as consequências do bullying e, ao mesmo tempo, oferecer apoio para as vítimas.
Em 2014, uma nova lei antibullying foi aprovada. Também foi criada uma linha telefônica para receber informações sobre incidentes envolvendo alunos. Mesmo assim, ativistas que lutam contra o assédio nas escolas afirmam que a França não enfrenta o problema de forma adequada.
"A resposta das autoridades está melhorando muito lentamente", diz a psicóloga e ativista Catherine Verdier. "Mas comparada a outros países, a França está se arrastando. Se você olhar para a Finlândia, a Suécia, onde o bullying é uma causa nacional, nesses países houve um verdadeiro esforço vindo de cima para mudar as coisas."
Willy Pierre, que dirige uma entidade chamada "Vocês São Heróis", criada após a morte de Marion para quebrar o tabu em torno bullying diz que "algumas escolas melhoraram" na França, "mas não o suficiente".
"A linha direta funciona apenas em horário escolar e agendar uma conversa entre a criança e um adulto pode levar semanas ou meses", afirma Pierre.
Ativistas pressionam para que as autoridades combatam também o cyberbullying - o assédio pela internet - que ocorre do lado de fora dos portões da escola. Pierre diz que a solução só virá quando pais, professores e alunos discutirem o problema abertamente.
Um relatório da Unicef publicado há dois anos idetifica o bullying como um problema mundial que "existe em algum nível e de alguma forma em todos os países".
As crianças que são maltratadas, diz a Unicef, são propensas a uma vasta gama de efeitos negativos, incluindo "depressão, ansiedade, pensamentos suicidas".


Casos de bullying nas escolas cresce no Brasil, diz pesquisa do IBGE

Aparência física é um dos principais motivos de bullying.
Problema é considerado de saúde pública.



A aparência física é um dos principais motivos de bullying nas escolas, um problema considerado de saúde pública. O número de casos de jovens submetidos a situações de humilhação vem crescendo, de acordo com pesquisa do IBGE sobre a saúde do estudante brasileiro.
Para quem sofre, não é brincadeira, não tem graça e pode deixar marcas. "Ficarem chamando de gordo, magro, julgar a aparência. Eu senti que meu coração ia cair", diz Maria Clara, de nove anos, vítima de bullying.
Karine Sales Braune é mãe de Maria Clara, que já teve problemas em três escolas. Eram sempre as mesmas ofensas gratuitas: “A reação dela é, às vezes, ficar quieta, se fechar".
A menina é amorosa e tímida. Ficou mais tímida nos últimos tempos, mas prefere perdoar os colegas. "Ela tenta relevar as coisas que acontecem com ela. Claro que magoa. Ela não quer tocar no assunto, pra ela, passou a dor, morreu o assunto. Ela abstrai, perdoa e não quer nem falar do assunto", relata a mãe.
A mãe pede para ela contar tudo sempre e conta com a ajuda da escola: “As outras duas escolas mal abordaram o tema. Nessa escola que a Maria está, eles resolveram prontamente a questão e eu acho que tem que ser assim".
Mesmo que muitos pais não saibam, esse sentimento é muito comum entre as crianças e adolescentes. Quase a metade dos alunos entrevistados na pesquisa (46,6%) diz que já sofreu algum tipo de bullying e se sentiu humilhado por colegas da escola. A maioria (39,2%) afirmou que se sentiu humilhado às vezes ou raramente e 7,4% disseram que essa humilhação acontece com frequência e entre os principais motivos está a aparência.
Comparando a pesquisa anterior, feita em 2012, o número de casos de alunos que relataram já ter se sentido assim no colégio aumentou. Em 2015, eram 46,6% dos alunos. Em 2012, eram 35,3%.
Uma escola no Rio de Janeiro tem um programa de combate ao bullying. São debates, aulas de arte que começa com os alunos entendendo o q essa palavra realmente significa. Eles estudaram inclusive a lei do bullying, que diz que o responsável pode até ser processado se o caso for comprovado.
Pela pesquisa, dois em cada 10 estudantes já praticaram bullying e as agressões partem mais dos meninos. Gabriel de Castro, de 14 anos, já sofreu e já praticou bullying, mas com entendimento, as coisas mudaram: “Fui aprendendo que essas brincadeiras que eu fazia não eram legais e isso magoava as pessoas".

Fonte: http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2016/08/casos-de-bullying-nas-escolas-cresce-no-brasil-diz-pesquisa-do-ibge.html